Desde pequena, sempre fui sensível demais, chorona demais. Não era birra, longe disso, mas uma tempestade que se formava dentro de mim sem aviso, como se cada emoção se avolumasse e precisasse transbordar de alguma forma. Quando algo que eu queria era negado, quando as coisas não saíam como eu planejava, ou mesmo quando me sentia injustiçada, meu corpo não encontrava outra saída que não fosse deixar tudo aquilo escapar em forma de lágrimas.
Na infância, isso não parecia ser um problema. As pessoas viam meu choro como algo natural, um traço inocente que, com o tempo, seria "corrigido" pelo amadurecimento. Crianças choram, afinal, não é? Mas agora, aos quase 18 anos, a história é diferente. De repente, essa sensibilidade, que antes era tolerada, tornou-se algo malvisto, um traço que as pessoas olham com desdém. Dizem que eu sou "frágil demais", "intensa demais".
às vezes tenho a sensação de que estou vivendo em um mundo que despreza tudo o que é demasiadamente humano.
Chorar é visto como fraqueza. E, por mais que eu tenha tentado esconder essa parte de mim, ela insiste em aparecer. Minhas lágrimas não pedem permissão; elas surgem nos momentos mais inesperados. Às vezes, é por algo grande, como uma briga que me deixou abalada. Outras, por algo aparentemente insignificante, como ir ao mercado e não encontrar o item que eu queria. Sei que, para os outros, isso parece desproporcional, quase ridículo. Mas quem pode definir a medida certa para a dor ou a frustração de alguém?
Aprendi, com o tempo, a engolir o choro. A transformar lágrimas em silêncios, soluços em suspiros. E, em muitos dias, isso funciona. Eu coloco uma máscara de força e sigo em frente, como se nada me atingisse. Mas há momentos em que sinto um vazio esmagador, uma vontade quase física de me entregar à minha fragilidade. Em dias assim, tudo o que eu queria era algo tão simples e ao mesmo tempo tão raro: um colo. Alguém que me segurasse firme, passasse a mão em minhas costas e dissesse, com uma voz gentil, “Shhh, está tudo bem. Pode chorar. Deixe sair.”
Mas o mundo não nos ensina a lidar com a vulnerabilidade, não é? Pelo contrário, somos condicionados a escondê-la, a vê-la como algo que precisa ser superado. Vivemos em uma sociedade que exalta a força, a resiliência, o autocontrole, enquanto despreza o ato de sentir profundamente. O choro, esse gesto tão simples e instintivo, tornou-se um sinal de fraqueza, algo que precisamos reprimir para sermos aceitos.
E isso me faz pensar: por que temos tanto medo de chorar? Por que lágrimas incomodam tanto os outros? Talvez porque elas revelem verdades que todos tentamos esconder. Chorar é admitir que algo nos tocou, que somos vulneráveis, que há uma parte de nós que não conseguimos controlar. E essa honestidade assusta. Em um mundo que valoriza máscaras, mostrar o rosto nu é um ato quase revolucionário.
A verdade é que há uma beleza nas lágrimas que poucos enxergam. Elas não são um sinal de derrota, mas uma forma de libertação. Cada lágrima que cai carrega um pedaço de dor, de frustração, de amor, de alegria. Elas são a prova de que estamos vivos, de que sentimos, de que nos importamos. Ser sensível não é um defeito, como muitos acreditam. É um presente raro em um mundo cada vez mais endurecido.
Às vezes, me pergunto se essa sensibilidade que carrego é, na verdade, uma forma de resistência. Um lembrete de que ainda posso me conectar com o que sou, mesmo quando tudo ao meu redor parece insensível. Talvez chorar seja meu jeito de me lembrar de que sou humana, de que ainda há algo de puro em mim.
E quem sabe, um dia, eu encontre alguém que entenda isso. Alguém que veja minhas lágrimas como parte da minha essência, não como algo a ser corrigido ou silenciado. Até lá, sigo tentando me aceitar por completo, acolhendo minhas fragilidades e aprendendo que o consolo que busco nos outros talvez precise vir, antes de tudo, de dentro de mim. Porque, no fundo, ser sensível é minha forma de ser forte. E talvez, só talvez, isso seja mais do que suficiente.
Bom dia gente! Post novinho, espero muito que gostem 💖
Una vez minha vó me disse que meu choro era somente o remédio da minha alma, porque há pessoas que riem para tudo, que odeiam tudo, que ficam alegres por tudo, e há pessoas que precisam chorar e que estava tudo bem. Depois disso nunca me culpei por sentir meus olhos encherem de lágrimas quando lembrava de algo especial, ou porque estou triste por simplesmente não ter conseguido ler algumas páginas do meu livro, porque chorar é o que alimenta e acalma minhas emoções... essa foi uma das lições que sempre vou guardar para a minha vida
A cada texto nesse aplicativo eu acho que perco uns 5 anos de vida (pra depressão)